São Bento era verdadeiramente um homem de oração, não porque escreveu ou falou sobre oração, mas porque a praticou. São Gregório Magno, no II Livro dos Diálogos, apresenta São Bento sempre em oração.
São Bento |
São Bento só foi ‘vencido’ na oração pela sua irmã Santa Escolástica, quando ela pede a Deus que faça chover para ficar mais tempo com o irmão, uma vez que seria a última vez que eles se encontrariam. Isto aconteceu porque ‘ela mais pode, porque mais amou’, explicou São Gregório, pois o segredo da oração é intensidade do amor com que se ora, ou como diria Santo Agostinho, ‘ a intensidade do desejo’. São Bento e sua irmã Santa Escolástica não rezavam por obrigação ou dever, mas por amor. Rezavam simplesmente porque amavam a Deus, e a partir deste amor amavam o próximo. A oração deles era uma maneira de dizer a Deus: eu te amo! Como disse São Pedro ao Cristo ressuscitado, no final do Evangelho de São João: ‘Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo!’. E como se pode explicar o amor? Muito difícil tentar descrever o que é o amor. Bem que os poetas tentam, e usam a lua para auxiliá-los nesta árdua tarefa. Talvez seja por isso que São Bento escreve tão pouco sobre a oração. Na sua Regra, ele organizou a Liturgia das Horas de seu mosteiro, dos capítulos 8 ao 18, tendo por modelo a Liturgia das Horas celebrada em Roma do seu tempo. E sobre a oração em si, somente dois pequenos capítulos (o cap. 19 e o cap. 20), nos quais recomenda que a oração deva ser breve e pura. É como se houvesse algum escrúpulo de São Bento em querer discorrer sobre o que há de mais íntimo entre o ser humano e Deus: a oração.
São Bento era sóbrio, não ficava com devaneios sobre a intimidade entre a alma e Deus. Como estava imbuído do espírito pragmático romano, ele apenas dá umas dicas preciosas sobre a oração: que devemos estar inteiros e concentrados naquilo que estamos fazendo quando oramos, por isso ele diz que na oração ‘nossa mente concorde com nossa voz’. Sugere que não nos utilizemos muitas palavras ao nos dirigirmos a Deus, pois nossa oração deve ser ‘breve e pura’. E também quando queremos começar algo de bom, São Bento dá a dica de que o melhor é primeiro orar ( no Prólogo). Quando chega um hóspede no mosteiro, que se ore com ele na capela. E que para a cura de um irmão que caiu em falta, nada melhor que a oração: é a arma mais poderosa!
Alguém poderia perguntar: mas o que devo dizer quando vou rezar? Uma pergunta do estilo que fizeram os discípulos para Cristo: “Senhor, ensina-nos a rezar”. E Cristo ensinou o Pai Nosso. O material para a oração comunitária que encontramos em São Bento são os Salmos, a Bíblia e os Pais da Igreja. Nos Salmos, por exemplo, encontramos todos os sentimentos e as necessidades do ser humano, por isso já eram utilizados na oração do templo de Jerusalém antes de Cristo. O próprio Cristo rezou os Salmos. Na Palavra de Deus é o próprio Cristo que fala conosco. E nos comentários bíblicos feitos pelos Pais da Igreja, como São Gregório Magno, Sto. Agostinho e São Leão Magno, temos a doutrina segura da nossa Mãe Igreja. No último capítulo da Regra, São Bento cita umas referências de onde se pode colher material para as orações e reflexões, dentre elas ele cita São Basílio Magno, chamando-o de ‘Nosso pai Basílio’. Para oração pública ou comunitária, há esse material entregue a São Bento pela Tradição da Igreja e que os beneditinos vem transmitindo de geração, a partir da Tradição que eles próprios receberam de São Bento, por meio de sua Regra. Mas para a oração íntima com Deus, aquela que se faz na intimidade do coração, que brota da ‘inspiração da graça divina’, como diz São Bento, para essa não há receita: cada um diga a Deus o que lhe vem ao coração, como fazem os poetas!
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